segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

uma noite no passado


Mulher, quem dirá
as tuas estrelas esquecidas
numa noite de infância e breu?

Perdida na memória
que singra o tempo
mais azul, essa noite
é a nossa noite.

É a noite do Primeiro
Pecado, o mais sutil
e passageiro, aquele
que não tinha ciência
da morte que era
seu corolário.

O Primeiro Desejo
de uma boca e de uma
íris que só eu conheci,
o primeiro descenso,
a primeira insensatez.
E pelo mato ia
correndo uma água fria
a nos dizer que o
sonho era tez e era Terra.

Nos dedicávamos ao júbilo
e à adoração dos pássaros
tingidos do metal da luz
noturna.

Éramos notívagos
entregues ao futuro. 

sábado, 26 de janeiro de 2013

A jaula



Vivi séculos dentro de mim,
diante da casa disforme que sou eu.

Vivi em muitas cidades hoje,
sozinho na jaula úmida que sou eu.

Vivi dezenas de amores simultaneamente,
dentro do fosso escuro que sou eu.

Perdi-me em deslumbramentos
de mil e uma bocas e sorvi-as todas,
no animal selvagem castrado que sou eu.

As paredes, os muros, os costumes,
punhais afiados de estridentes domínios
perdidos pelo tempo que sou eu.

Minha mente, a infernal, vive mais
que eu todas as horas, rebelde
do professor severo
para mim que sou eu.

Tantos séculos vivo dentro do quarto,
sozinho, cercado do inferno doce que sou eu.

Um poeta tem de dizer de suas entranhas,
A carne escura que não quero ver que sou eu

Poema registrado na Biblioteca Nacional

sábado, 17 de novembro de 2012

Brancas Noites


Brancas noites
cordilheiras hediondas que
chovem vasculares sobre
o choro, sobre a cera

olhos negros, vazios em folhas
poemas ermos e políticos
e ébrios e pequenos

palavras ferinas, incômodas
toda a prataria de
alguém a sentir

desejos castos
palavras castas
objetos delirantes

sou todo eu a
sonhar as ilhas vastas
o som poético
dos orgasmos revividos

Paisagens lúgubres
homens de carvão a
correr sofridos dentro da história

Decidi ser tão grande
quanto o que sinto

aproximem-se das castas curvas
da mulher a sorrir o mar
a sorrir a rua
a sorrir o esquecimento
e sua memória implacável

que nisso tudo serei eu
máquina de versos e
de homens
mixórdia de luz e noite
frente a todas as locomotivas
a correr, a gritar
a sorrir

Poema registrado na Biblioteca Nacional

sábado, 17 de dezembro de 2011

O osso

Veste a gravata calma
Que é obra do acaso
E do oblívio

É bandeira de pudor
Osso do ofício de poeta
Entrevado e cinza

Vá para a Europa
Terra da história e do futuro
Suas mil engenharias
E o arvoredo

Faz luz de madrugada
No cego é força o pêlo
E a névoa da boca é troca

Boca de carne
Seu sangue é pedra e dívida
No osso do ofício de poeta
Há um sofrer maior que um querer
Maior que tudo.


*Poesia registrada na Biblioteca Nacional

sábado, 25 de junho de 2011

Estive andando entre árvores

Estive andando entre árvores e tudo o que vi foi

um grande declive na boca das pessoas... como

um andarilho neste passo e no arvoredo estive remoendo

coisas, músicas, entorpecentes, memórias


quero dizer a todos que apresento um pássaro negro

belo, com regras, sua disciplina é espartana e por onde olho

vejo-o como exemplo e escuridão


estive andando entre águas e entre gases

estive andando como um viciado em idéias

e por onde olho deixo visões alucinadas que me corroem

como a noite


estive andando sozinho e estive marcando

muitas tardes, muitos sorrisos,

estive brotando na carne de mulheres que jamais conheci


tenho sido fogo, tenho sido ameaça

tenho sido perigo

estive andando entre árvores e deixei

pegadas como um bicho


Companheiros de blogosfera, de versejo e de paixões ludopédicas. Mudei o nome do blog. Andava me sentindo estranho com tanta contemplação e pouca ação. Também resolvi publicar meus poemas no preto no branco, como vovó fazia. Todos os poemas postados até agora fazem parte de um recolho intitulado "Os primórdios", que enviei para a 7letras. Aguardo resposta, que deve ser, provavelmente, não... rs. Como desde novembro de 2010 não publico nada aqui, aqui vai (acima) mais um dos meus dispensáveis poemas. Abraços.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Quem Sou

Não vejo em mim o que me vejo
vejo o que os outros vêem através de mim como me vejo

Sou todas as coisas sementes
não-ego intraduzível de tingir
todo o mundo de mim comigo

Sou a saia transversa da menina morena
Sou o desespero tímido de sua boca doce
e de seus olhos trágicos

Tudo está em mim e eu para todo o mundo!