sábado, 26 de janeiro de 2013

A jaula



Vivi séculos dentro de mim,
diante da casa disforme que sou eu.

Vivi em muitas cidades hoje,
sozinho na jaula úmida que sou eu.

Vivi dezenas de amores simultaneamente,
dentro do fosso escuro que sou eu.

Perdi-me em deslumbramentos
de mil e uma bocas e sorvi-as todas,
no animal selvagem castrado que sou eu.

As paredes, os muros, os costumes,
punhais afiados de estridentes domínios
perdidos pelo tempo que sou eu.

Minha mente, a infernal, vive mais
que eu todas as horas, rebelde
do professor severo
para mim que sou eu.

Tantos séculos vivo dentro do quarto,
sozinho, cercado do inferno doce que sou eu.

Um poeta tem de dizer de suas entranhas,
A carne escura que não quero ver que sou eu

Poema registrado na Biblioteca Nacional