Vivi
séculos dentro de mim,
diante da
casa disforme que sou eu.
Vivi em
muitas cidades hoje,
sozinho na
jaula úmida que sou eu.
Vivi
dezenas de amores simultaneamente,
dentro do
fosso escuro que sou eu.
Perdi-me em
deslumbramentos
de mil e uma
bocas e sorvi-as todas,
no animal
selvagem castrado que sou eu.
As paredes,
os muros, os costumes,
punhais
afiados de estridentes domínios
perdidos
pelo tempo que sou eu.
Minha
mente, a infernal, vive mais
que eu
todas as horas, rebelde
do
professor severo
para mim
que sou eu.
Tantos
séculos vivo dentro do quarto,
sozinho,
cercado do inferno doce que sou eu.
Um poeta
tem de dizer de suas entranhas,
A carne escura que
não quero ver que sou euPoema registrado na Biblioteca Nacional