domingo, 19 de setembro de 2010

Ciência

I

Absoluto como a noite

dou a máxima força às palavras


Ou pretendo ser absoluto, total,

impregnar-me nas coisas,

fazer como um vírus


Amo a ciência

Sou homem sincero

e amo a ciência


Amo as flores, como

um simples camponês

amo as flores e as aves

e os dilúvios mornos do verão


Amo as flores embora

ame a ciência: arredia,

inviolável, hermética, de aço


E mesmo na ciência

das flores tem aço:

assombroso aço, frio aço,

honesto aço


II

Na noite tímida e sombria

penso no aço frio e na morte,

mas quando vejo os olhos

resplandecerem no ar negro

e quando estou perto da boca

úmida e redonda, e rósea

(do vermelho desbotado da esperança)

e nas mãos miúdas com

os finos dedos tocando a minha pele

já não penso mais em ciência,

já não amo mais a dor e a ciência


Penso nas flores,

sou simples como um camponês

e aceito a morte, a morte

como a mãe de tudo


Sou forte como aço

Estou nu e as coisas nuas

e o campo aberto para o dia