Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação. Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e compromissos.
Carlos Drummond de Andrade
Escolho esta célebre afirmação do grande poeta itabirano, o homem "triste, orgulhoso: de ferro", para inaugurar este blog com os versos que venho escrevendo há quase dez anos, sem coragem de torná-los públicos. Muitas coisas poderiam ser ditas sobre o estímulo para a literatura. Creio tratar-se mais de um impulso. Mas o mundo é mesmo governado por impulsos: o que explica essas hordas de homens e mulheres dedicando-se à política, à ciência, aos filhos, às letras, aos esportes? Impulsos e paixões quase inexplicáveis acrescidos do tempo que nos é ofertado viver, e alguma recompensa terrena e/ou extraterrena. Espero que os versos tornados públicos por aqui possam acrescentar algo, ainda que modestamente, a quem se dispuser a lê-los. Afinal vivemos tempos tristemente pragmáticos, carentes de poiesis - nos dizeres de Drummond, um tempo de partido, tempo de homens partidos.