segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Primórdio de lua

Distinta cai a lua para dentro do mundo

Sua chama ainda é branda e coteja a chama do dia



Fim de tarde quase morto, princípio de noite quase vivo,

e o ar e sua confusão metálica



forças de aves pairam sobre o corpo das ruas,

confusos metais brilham, luzes se anunciam tímidas e mortíferas,

e o barulho parece cego, depravado...

mulheres banham-se em tristezas... e o rebanho de automóveis

corre longe...



Eu estou perto... perto mas escondido como um corvo

sentindo tiritar o que só eu mesmo sinto -

a agressão do mundo, a palidez da alegria instituída,

a força corrosiva de tudo que progride...



Minhas mãos...apenas minhas mãos...como pele de fauna santa

trabalham martirizando-me, mostrando-me como tudo

tem de ser... sereno e amargo... doloroso e grande

como a lua que se mostra fibrosa e distante



Vento do crepúsculo...teu sangue é como uma vida implorando vida

teu rosto está tingido de paródias...tuas histórias são

vastas e delirantes... teu talo é pequeno e enraizado.



Nada o move do momento que apontas... o único momento

em que apareces encharcado de verbos...

o momento do anoitecer, quando a lua é

um primórdio tímido estufando melodias...

a melancolia... o desarranjo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário